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domingo, 11 de setembro de 2011

MAIS DE MISSÕES

Grande seara ainda requer muitos ceifadores

 
Apesar do trabalho intenso de igrejas e agências, o número de missionários cristãos no mundo é pequeno para a grande demanda de evangelismo

É muito comum encontrar opiniões contrárias quando se fala em missões no mundo. Há pessoas que focalizam as condições missionárias de acordo com o seu próprio país e, muito superficialmente, acompanham as notícias através dos meios de comunicação. Esse primeiro grupo pode achar que, no mundo inteiro, missões é algo que flui naturalmente. Outros estão mais inseridos no contexto de missões transculturais e são pessoas mais participativas, por isso recebem notícias mais concretas e detalhadas. Esse segundo grupo pode estar mais preocupado com as pessoas que ainda não foram evangelizadas, mas não percebem que em seu próprio país, um exército de desviados está morrendo sem salvação. O que está acontecendo com “Missões”?

Que a verdade seja dita - Há um grande número de igrejas espalhadas pelo mundo e de pessoas que se denominam cristãs, mas não fazem nada pelo Evangelho. Diferente do primeiro século de nossa era, quando a igreja cristã inaugurou o movimento de missões, e os discípulos eram revestidos de poder. “Nesses tempos, o ide de Jesus era realmente atendido, mesmo em meio a tantas dificuldades, hoje em dia o processo é lento, embora a igreja tenha todas as facilidades e condições para realizar um evangelismo de maior potência”, observa Antonio Carlos Orbaneça, pastor e vice-presidente da Igreja Assembléia de Deus, em Santo André. De acordo com David B. Barrett, um dos maiores pesquisadores cristãos do mundo, há muita gente morrendo sem conhecer Jesus. “Em média, 31.100.000 por ano; o equivalente a 85.205 por dia; especificamente 3.550 por hora; ou 59 por minuto; uma realidade de 1 ser humano morrendo sem Jesus a cada segundo!”. Do ponto de vista da progressão estatística, o número de evangélicos cresce a cada dia, o que deveria diminuir esse número assustador de pessoas que morrem sem a salvação. Mas nem todos que se denominam cristãos vivem no aspecto essencialmente bíblico, ou seja, muitos não praticam o que está na Bíblia, e a pior notícia é que a maioria não lê a Bíblia da forma como deveria. “Os crentes modernos não buscam na Bíblia o que ela proclama. Há uma necessidade premente de que os crentes do nosso século relacionem-se com as coisas de Deus e não com o deus das coisas. Assim sendo, todo conhecimento que se busca das Escrituras é direcionado ao que se possa reivindicar do Senhor para, a partir daí, colocar Deus na parede, usando, obviamente, a própria Palavra Dele como escudo” observa o professor de teologia sistemática do Instituto Betel, Alberto Felske. O outro lado da moeda mostra que os leitores mais proeminentes se aproveitam desse conhecimento mais complexo para destacar a soberba e não a humildade que Jesus praticou, enquanto esteve entre nós. Felske explica: “Os mais ortodoxos tentam extrair da Palavra um conhecimento superficial, baseando-se em curiosidades bíblicas, para tentar mostrar aos menos esclarecidos a amplitude dos seus conhecimentos em suas pregações e chegam a ser chatos e até hilários, pondo em dúvida, muitas vezes, a lisura da propagação da Palavra” alerta o professor.

Existe ainda um outro tipo de crente leitor que, no ponto de vista de Felske, pode ser um pouco mais prejudicial ao bom andamento do cristianismo. “São aqueles que decoram uma infinidade de versículos bíblicos, alguns isolados do seu contexto para depois arrotarem um conhecimento que não passa de teórico; surgem então as doutrinas sem base hermenêutica, que levam ao surgimento das heresias modernas e aumenta o número de prosélitos. E desaparece o amor, a simplicidade e a consciência sobre o “ide” de Jesus. Isso prejudica consideravelmente o caráter missionário da igreja”. Conclui Felske, que também é pastor titular da Igreja Batista Renovada Fonte de Vida, em São Bernardo do Campo – SP e membro da Ormiban – Ordem dos Ministros Batistas Nacionais.

Realidade - É difícil de estabelecer uma estatística totalmente confiável quando estamos lidando com uma população mundial de 6,7 bilhões (ONU), dentro de um planeta que tem 510 milhões de quilômetros quadrados, cerca de 192 países e abordando um tema que, literalmente, se move a cada dia. Mas existe um trabalho sério no Brasil, por parte de pesquisadores e agências missionárias, que fornecem dados através de gráficos que ilustram o crescimento mundial do cristianismo dos últimos tempos. Um bom exemplo disso é a Sepal – Servindo aos Pastores e Líderes, que disponibiliza o site Infobrasil (www.infobrasil.org.br). “Nosso sonho é ver uma Igreja saudável, ao alcance de todos, que possa levar o Evangelho de Jesus Cristo ao mundo todo. Com este alvo, estamos especialmente empenhados em fornecer treinamentos e materiais que auxiliem a liderança da Igreja a ministrar bíblica e fielmente”. Essa é a convicção do diretor da Sepal, Josué Campanhã. No mesmo pensamento, o pastor Silas Tostes, presidente da AMTB – Associação de Missões Transculturais Brasileiras, acredita no trabalho das agências missionárias do Brasil. “Essas agências existem para ajudar e direcionar igrejas e missionários. Já a AMTB é o guarda-chuva interdenominacional que permite que essas agências realizem juntas alguns projetos, consultas e congressos. A AMTB tem um padrão de qualidade, que indica o nível mínimo para o trabalho de despertamento, treinamento e envio de missionários” diz. O gráfico1, disponível no site da infobrasil, mostra como Barret dividiu o mundo em três e analisou quantos são os cristãos verdadeiros (mundo C), quantas pessoas receberam o Evangelho e o rejeitaram (mundo B) e quantos necessitam de missionários entre eles, que possam fazer a apresentação de Jesus Cristo (mundo A). De acordo com o gráfico, somente um terço do mundo pode sonhar com o céu.

Os Mundos A, B e C (Definições)
 
Mundo A: o mundo não evangelizado se refere às pessoas que nunca ouviram o evangelho ou não o compreendem o suficiente para atomar uma atitude inteligente.

Mundo B: o mundo evangelizado, porém não-cristão, se refere àqueles que já ouviram o evangelho o suficiente para compreendê-lo, mas o rejeitaram.
Mundo C: o mundo cristão se refere 
aos que se dizem “cristãos”, incluindo os nominais, católicos, ortodoxos, etc.

Países missionários – Cristãos que vivem a realidade do Evangelho levam a sério essa ordem: ide e fazei discípulos de todas as nações. Antigamente, os europeus enviavam a maioria dos missionários, hoje em dia são os EUA. Mas a grande surpresa é essa: Ásia e Índia enviam muitos missionários dentro de seus próprios países, aos povos não alcançados. Na Ásia quem mais envia missionários para fora do país é a Coréia do Sul. E na América do Sul, somos nós, os brasileiros, que enviamos mais missionários para evangelizar o mundo, segundo a Sepal. “Há um grande número de missionários brasileiros servindo dentro da Janela 10-40, que é aquela área que se estende do leste da África ao leste da Ásia, de 10 a 40 graus ao norte da Linha do Equador, onde vivem a maioria dos povos não alcançados. Essa área é de muita resistência espiritual onde dominam as religiões mais hostis ao evangelho: o islamismo, o hinduismo e o budismo. Já contamos com 20% dos missionários brasileiros trabalhando por lá” explica Mércia Carvalhaes, secretária do Departamento de Pesquisas da Sepal. Embora a estatística seja positiva em relação aos anos anteriores, Orbaneça observa que poderia ser ainda melhor. “Missões não é um departamento priorizado em todas as igrejas, algumas preferem manter o status e investem muito mais no conforto do templo do que no sustento dos missionários, e um dos motivos para que isso aconteça é a falta de espiritualidade, que induz à secularização da igreja e isso gera má vontade para administrar os projetos que realmente importam para Deus” conclui. ’

Quadro: Para onde os missionários são enviados:
 
É uma tendência forte e crescente. Hoje, cerca de 3.195 brasileiros estão trabalhando transculturalmente ao redor do mundo. O Espírito de Deus parece estar soprando, e cada vez mais as igrejas brasileiras estão içando as velas e entrando neste novo movimento missionário brasileiro”, constata a Sepal. Mas ainda não é suficiente. “Apesar de muitos missionários atuando dentro do Brasil, sem barreiras transculturais, o número de missionários transculturais é bem inexpressivo diante do tamanho da Igreja Evangélica no Brasil, o que indica que as Igrejas Brasileiras estão falhando no cumprimento do mandamento do Senhor” lamenta Mércia.

Poderia ser melhor - o IDE de Jesus ainda não alcançou o coração da maioria dos crentes e embora as estatísticas apresentem números sempre em crescimento, eles ainda são tímidos diante do número daqueles que mor“em sem salvação e que se desviam. Ao longo dos quase 50 anos que tenho como cristão, pude observar grandes obreiros, com tremenda força de vontade, mas sem chamado missionário. Mesmo assim, sem preparo algum e sem unção, eles se lançaram no campo e, literalmente, afundaram seus ministérios” observa o pastor Alberto Felske. Para ele, essa realidade faz pensar que Deus tem um propósito com cada ser humano: alguns nasceram para fazer missões e outros para trabalhar na retaguarda, sustentando, dando apoio, administrando e orando por quem necessita trabalhar no campo. No entanto, o que se vê, segundo Felske, são missionários no casulo, e não-missionários que se aventuram,“pensando estar fazendo a obra de Deus. Quando não damos aos obreiros a possibilidade de um treinamento adequado, de acordo com cada chamado, tanto eles quanto a igreja terão como conseqüência, cristãos famintos e desmotivados ou, num outro extremo, obreiros medíocres que passarão a trabalhar como mercenários, buscando apenas a satisfação pessoal. É necessário que se diga que toda vocação precisa de preparação. É preciso compreender o salmista: "escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti”, conclui.

Cristina Beloni Alencar
Colaboradora da Revista Eclésia

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